Livros analisados por Allan Kardec
Bibliografia
CARTA DE UM CATÓLICO SOBRE O ESPIRITISMO
Pelo Dr. Grand, antigo Vice-cônsul da França39
O autor desta brochura propôs-se a provar que se pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e fervoroso espírita. Neste sentido, prega pela palavra e pelo exemplo, pois é sinceramente uma e outra coisa. Por fatos e argumentos de uma lógica rigorosa, estabelece a concordância do Espiritismo com a religião, e demonstra que todos os dogmas fundamentais encontram, na Doutrina Espírita, uma explicação susceptível de satisfazer à razão mais exigente, que em vão a teologia se esforça para dar; de onde conclui que, se esses dogmas fossem ensinados desta maneira,encontrariam bem menos incrédulos e que, portanto, devendo a religião ganhar com essa aliança, dia virá em que, pela força das coisas, o Espiritismo estará na religião, ou a religião no Espiritismo.

Parece difícil que, após a leitura desse opúsculo, aqueles que os escrúpulos religiosos ainda afastam do Espiritismo não sejam levados a uma apreciação mais sadia do problema. Aliás, há um fato evidente: é que as idéias espíritas marcham com tal rapidez 39 Br. Grand in-18, preço 1 fr.; pelo Correio 1 fr. 15 cent, Ledoyen,livreiro-editor, Palais-Royal, 31, galerie d’Orléans e no escritório da Revista Espírita. que, sem ser adivinho nem feiticeiro, é possível prever o tempo em que serão tão gerais que, querendo ou não, ter-se-á que contar com elas; essas idéias conquistarão foros de cidadania, sem haver necessidade da permissão de ninguém, e em breve se reconhecerá, se ainda não se fez, a absoluta impossibilidade de lhe deter o curso. As próprias diatribes dar-lhes-ão um impulso extraordinário e não se poderia crer no número de adeptos que, sem querer, fez o Sr. Louis Figuier com a sua Histoire du merveilleux, na qual pretende tudo explicar pela alucinação, quando, definitivamente, nada explica porque, sendo seu ponto de partida a negação de toda força fora da Humanidade, sua teoria material não pode resolver todos os casos. Os gracejos do Sr. Oscar Comettant não são argumentos: ele faz rir, mas não à custa dos espíritas. O impudente e grosseiro artigo da Gazette de Lyon só prejudicou a ela mesma, pois todos o julgaram como o merece. Após a leitura da brochura de que falamos, que dirão os que ainda ousam avançar que os espíritas são ímpios e que a sua doutrina ameaça a religião? Não percebem que, assim falando, fariam crer que a religião é vulnerável; realmente,seria muito vulnerável se uma utopia, pois, segundo eles, trata-se de utopia, pudesse comprometê-la. Não receamos dizer: todos os homens sinceramente religiosos – e por isso entendemos os que o são mais pelo coração do que pelos lábios – reconhecerão no Espiritismo uma manifestação divina, cujo objetivo é reavivar a fé que se extingue.

Recomendamos insistentemente essa brochura a todos os nossos leitores, e cremos que farão uma coisa útil, procurando propagá-la.
R.E. , novembro de 1860, p. 490